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30 de Julho de 2025

Nos Bastidores do Registro Civil – Conhecendo o cartório do Jabaquara

Jabaquara: tradição, modernização e um compromisso permanente com a comunidade

Situado na zona sul da capital paulista, o bairro do Jabaquara é conhecido por sua forte identidade histórica e papel estratégico no desenvolvimento urbano da cidade. O nome tem origem na língua tupi — YAB-A-QUAR-A, que significa “rocha escavada” — e remete às cavernas da região, utilizadas como rota de fuga por escravizados no período colonial. Com a urbanização acelerada a partir da década de 1950, o Jabaquara tornou-se um importante ponto de conexão entre o centro e a zona sul, abrigando desde terminais de transporte até conjuntos residenciais e espaços culturais, como o Sesc Jabaquara e o Centro de Culturas Negras.

Foi nesse contexto de crescimento urbano e consolidação social que surgiu, em 15 de julho de 1967, o 42º Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais do Subdistrito do Jabaquara, cuja criação e competência territorial foram estabelecidas pela Lei nº 8.092, de 1964. Ao longo de mais de cinco décadas, a serventia tornou-se uma referência no bairro, acompanhando os marcos mais importantes da vida dos moradores — nascimentos, casamentos e despedidas — e construindo um forte vínculo afetivo com a comunidade local. Desde sua fundação, o cartório passou por gerações de oficiais, sendo conduzido por Sebastião Alvim da Cunha, seguido por seu filho Carlos Alvim Corrêa da Cunha, e atualmente comandado pela oficial Júlia Cláudia Rodrigues da Cunha Mota, que assumiu a titularidade em 2017, após aprovação no 10º Concurso de Outorga de Delegações do TJSP.

Uma trajetória marcada pela vocação e desafios

Natural de Belém do Pará, Júlia cresceu no ambiente notarial e registral. Aos 16 anos já trabalhava com o pai, tabelião no estado. O interesse pela área surgiu naturalmente, motivado pelo envolvimento direto com a rotina cartorária. “O encanto pelo extrajudicial começou cedo, quando comecei a trabalhar com ele. Sou apaixonada pela carreira, nunca pensei em mudar”, revela.

Após concluir a graduação em Direito, prestou concurso para o estado do Rio de Janeiro e se tornou titular ainda muito jovem. Atuou em Paty do Alferes e, posteriormente, em Niterói, como tabeliã de notas e registradora de imóveis. Mesmo já estabelecida, seguiu prestando concursos em outros estados. “Meu marido, também registrador, assumiu serventia em São Paulo. Com isso, decidi recomeçar aqui para reunir a família novamente”, conta.

A história no estado paulista começou na cidade de Laranjal Paulista, passou por Capivari, e culminou, em 2017, com a aprovação no 10º Concurso de Outorga de Delegações e a escolha pelo 42º Subdistrito do Jabaquara, uma serventia com história, tradição e, à época, muitos desafios a serem superados.

Uma nova fase no Jabaquara: modernização com identidade

Ao assumir a serventia, Júlia encontrou uma realidade que exigia não apenas reformas físicas, mas também mudanças profundas na cultura organizacional. O cartório havia passado por um período de interinidade e enfrentava limitações na estrutura e no atendimento.

“Quando se assume uma serventia, ainda mais uma que esteve sob intervenção, os desafios vão além da estrutura física. É necessário reconfigurar a mentalidade dos funcionários, incentivá-los e ganhar confiança. Há o enorme receio de demissão ou não recepção em massa, procurei demonstrar que necessitava daquela força de trabalho e acreditava nela, mas era preciso mudar, os usuários tinham que ser ouvidos e as mudanças viriam, porque agora havia um titular, que podia responder de imediato as demandas”, explica a oficial.

Um dos marcos dessa nova fase foi a mudança de prédio, realizada sem romper os laços com o território. “O cartório fazia parte da história do bairro e não poderia ir para longe de onde estava. Foram quase 40 anos instalados na mesma rua. Depois de muita procura e um pouco de sorte, com a ajuda de um colaborador, consegui mudar para um prédio a poucos metros do antigo, na mesma rua”, completa.

Tecnologia e acessibilidade: inclusão como prioridade

Nos últimos anos, o cartório passou por uma significativa transformação tecnológica e estrutural. Além da expansão da equipe, a serventia modernizou o sistema de atendimento, atualizou equipamentos, renovando completamente seu parque tecnológico. “Ampliamos consideravelmente o número de funcionários, mudamos o servidor e o sistema de atendimento, contamos com duas operadoras de internet, investimos na aquisição e modernização dos computadores, ou seja, investimos tanto em pessoal quanto em tecnologia, investimentos esses que não cessaram nem na época da pandemia. Era necessário continuar atendendo a população, sobretudo naquele período.  A rotina de trabalho também mudou, hoje os funcionários do setor sabem ou aprendem todos os serviços, pois se necessário, ajudam os demais”, conta Júlia.

Além disso, a nova sede foi planejada com foco na acessibilidade e acolhimento. Um exemplo é a criação de uma sala térrea de casamentos adaptada para pessoas com mobilidade reduzida, com mesa mais baixa e cadeiras adequadas. “Além das duas salas tradicionais, fizemos uma sala acessível para deficiente físicos, mantendo o mesmo padrão de decoração e estrutura. É nosso dever garantir que esse momento tão importante seja celebrado com dignidade”, enfatiza.

Outra iniciativa relevante é o atendimento do setor de procurações que foi instalado no piso térreo para melhor atendimento a idosos e pessoas com dificuldade de locomoção, com apoio de intérpretes de Libras e ambientes adaptados. “Temos muitos usuários idosos ou com pais idosos, então investimos no acesso para pessoas com deficiência e mantivemos à disposição uma cadeira de rodas para usuários que necessitarem”.

Humanização e compromisso diário com a excelência

A cultura de trabalho também passou por uma reestruturação. A equipe é treinada para atuar de forma colaborativa e integrada. “Hoje os funcionários sabem ou aprendem todos os serviços. Isso permite maior agilidade, especialmente em períodos de alta demanda”, explica a oficial.

Essa agilidade é essencial em uma metrópole como São Paulo, onde as mudanças legais e tecnológicas ocorrem em ritmo acelerado. “Se a lei muda, no dia seguinte já há pessoas no balcão querendo a sua aplicação. Precisamos estar atualizados em tempo real, tanto nós quanto a equipe”, completa.

O cartório também se adaptou ao atendimento por canais digitais. O WhatsApp, por exemplo, superou o telefone como principal meio de contato. “Hoje atendemos muito mais pessoas pelo WhatsApp do que pelo telefone, isso também demandou mudança no atendimento, treinamento, mas tudo feito em tempo real, não há tempo para treinar e depois implementar, pois a população deseja a mudança no momento em que ela ocorre”, explica.

O cartório como espaço de afeto, memória e pertencimento

Com uma forte ligação com o bairro, o cartório do Jabaquara é reconhecido não apenas pelos serviços prestados, mas pelo papel que ocupa na vida cotidiana da comunidade. “Sinto-me privilegiada e honrada. Existe um vínculo afetivo forte entre os moradores do bairro e o cartório. Senti isso logo nos primeiros dias que assumi, o cartório tem a história das pessoas daqui e devemos cuidar e manter esse legado”, relata a registradora.

O cartório é também muito procurado para a realização de casamentos. E para isso Júlia conta que investiu para uma boa experiência dos usuários “Entendemos que o casamento civil, muitas vezes, será a única celebração da união. Por isso, oferecemos espaços confortáveis, com decoração ‘clean’, onde os noivos possam celebrar esse momento cercados de pessoas queridas”, ressalta.

Olhar para o futuro: mudanças contínuas e propósito social

Após seis anos da mudança estrutural, a oficial reconhece que as melhorias não param. “Já sinto necessidade de realizar mudanças. Mudanças físicas, estruturais demandam tempo e planejamento, mas com as alterações legislativas e tecnológicas, mesmo em tão pouco tempo, já penso: deveria ter feito diferente! Hoje, por exemplo, atendemos usuários com deficiência auditiva com a ajuda de tradutores de libras, mas a estrutura que temos poderia ser diferente, melhor, como com uma televisão na sala de casamentos que possibilitasse aos noivos uma transmissão melhor dos sinais e não apenas através de um notebook”, reflete.

Mesmo após tantas conquistas, Júlia acredita que ainda há muito a ser feito. “Sempre penso em melhorias ou investimentos, pois os serviços ou a forma de prestá-los vai mudando e temos que nos adaptar. Como citei, buscamos a excelência, mas as mudanças são feitas em tempo real e hoje o que nos atende bem, amanhã pode não atender tão bem”, afirma.

Por fim, a registradora deixa uma mensagem de gratidão e compromisso: “Não nos acomodaremos! Fizemos a mudança de prédio para um ponto próximo ao antigo, sem perdermos a conexão que existia, mas sabemos que podemos melhorar a estrutura que planejamos. Mudanças ocorreram e queremos atendê-las. Fico feliz e satisfeita em melhorar, em escutar do usuário que conseguimos ouvi-lo e atendê-lo de forma mais eficaz e eficiente. Esse é o nosso papel!”.

Fonte: Eduardo Carrasco, Assessoria de Comunicação da Arpen-SP

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