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Nos Bastidores do Registro Civil – Conhecendo o cartório do Jabaquara
Jabaquara:
tradição, modernização e um compromisso permanente com a comunidade
Situado na zona sul da capital paulista, o bairro do
Jabaquara é conhecido por sua forte identidade histórica e papel estratégico no
desenvolvimento urbano da cidade. O nome tem origem na língua tupi — YAB-A-QUAR-A,
que significa “rocha escavada” — e remete às cavernas da região, utilizadas
como rota de fuga por escravizados no período colonial. Com a urbanização
acelerada a partir da década de 1950, o Jabaquara tornou-se um importante ponto
de conexão entre o centro e a zona sul, abrigando desde terminais de transporte
até conjuntos residenciais e espaços culturais, como o Sesc Jabaquara e o
Centro de Culturas Negras.
Foi nesse contexto de crescimento urbano e consolidação
social que surgiu, em 15 de julho de 1967, o 42º Cartório de Registro Civil das
Pessoas Naturais do Subdistrito do Jabaquara, cuja criação e competência
territorial foram estabelecidas pela Lei nº 8.092, de 1964. Ao longo de mais de
cinco décadas, a serventia tornou-se uma referência no bairro, acompanhando os
marcos mais importantes da vida dos moradores — nascimentos, casamentos e
despedidas — e construindo um forte vínculo afetivo com a comunidade local.
Desde sua fundação, o cartório passou por gerações de oficiais, sendo conduzido
por Sebastião Alvim da Cunha, seguido por seu filho Carlos Alvim Corrêa da
Cunha, e atualmente comandado pela oficial Júlia Cláudia Rodrigues da Cunha
Mota, que assumiu a titularidade em 2017, após aprovação no 10º Concurso de
Outorga de Delegações do TJSP.
Uma trajetória marcada pela vocação e
desafios
Natural de Belém do Pará, Júlia cresceu no ambiente
notarial e registral. Aos 16 anos já trabalhava com o pai, tabelião no estado.
O interesse pela área surgiu naturalmente, motivado pelo envolvimento direto
com a rotina cartorária. “O encanto pelo extrajudicial começou cedo, quando
comecei a trabalhar com ele. Sou apaixonada pela carreira, nunca pensei em
mudar”, revela.
Após concluir a graduação em Direito, prestou concurso
para o estado do Rio de Janeiro e se tornou titular ainda muito jovem. Atuou em
Paty do Alferes e, posteriormente, em Niterói, como tabeliã de notas e
registradora de imóveis. Mesmo já estabelecida, seguiu prestando concursos em
outros estados. “Meu marido, também registrador, assumiu serventia em São
Paulo. Com isso, decidi recomeçar aqui para reunir a família novamente”, conta.
A história no estado paulista começou na cidade de
Laranjal Paulista, passou por Capivari, e culminou, em 2017, com a aprovação no
10º Concurso de Outorga de Delegações e a escolha pelo 42º Subdistrito do
Jabaquara, uma serventia com história, tradição e, à época, muitos desafios a
serem superados.
Uma nova fase no Jabaquara: modernização com
identidade
Ao assumir a serventia, Júlia encontrou uma realidade que
exigia não apenas reformas físicas, mas também mudanças profundas na cultura
organizacional. O cartório havia passado por um período de interinidade e
enfrentava limitações na estrutura e no atendimento.
“Quando se assume uma serventia, ainda mais uma que
esteve sob intervenção, os desafios vão além da estrutura física. É necessário
reconfigurar a mentalidade dos funcionários, incentivá-los e ganhar confiança.
Há o enorme receio de demissão ou não recepção em massa, procurei demonstrar
que necessitava daquela força de trabalho e acreditava nela, mas era preciso
mudar, os usuários tinham que ser ouvidos e as mudanças viriam, porque agora
havia um titular, que podia responder de imediato as demandas”, explica a
oficial.
Um dos marcos dessa nova fase foi a mudança de prédio,
realizada sem romper os laços com o território. “O cartório fazia parte da
história do bairro e não poderia ir para longe de onde estava. Foram quase 40
anos instalados na mesma rua. Depois de muita procura e um pouco de sorte, com
a ajuda de um colaborador, consegui mudar para um prédio a poucos metros do
antigo, na mesma rua”, completa.
Tecnologia e acessibilidade: inclusão como
prioridade
Nos últimos anos, o cartório passou por uma significativa
transformação tecnológica e estrutural. Além da expansão da equipe, a serventia
modernizou o sistema de atendimento, atualizou equipamentos, renovando
completamente seu parque tecnológico. “Ampliamos consideravelmente o número de
funcionários, mudamos o servidor e o sistema de atendimento, contamos com duas
operadoras de internet, investimos na aquisição e modernização dos
computadores, ou seja, investimos tanto em pessoal quanto em tecnologia, investimentos
esses que não cessaram nem na época da pandemia. Era necessário continuar
atendendo a população, sobretudo naquele período. A rotina de trabalho também mudou, hoje os
funcionários do setor sabem ou aprendem todos os serviços, pois se necessário,
ajudam os demais”, conta Júlia.
Além disso, a nova sede foi planejada com foco na
acessibilidade e acolhimento. Um exemplo é a criação de uma sala térrea de
casamentos adaptada para pessoas com mobilidade reduzida, com mesa mais baixa e
cadeiras adequadas. “Além das duas salas tradicionais, fizemos uma sala
acessível para deficiente físicos, mantendo o mesmo padrão de decoração e
estrutura. É nosso dever garantir que esse momento tão importante seja
celebrado com dignidade”, enfatiza.
Outra iniciativa relevante é o atendimento do setor de
procurações que foi instalado no piso térreo para melhor atendimento a idosos e
pessoas com dificuldade de locomoção, com apoio de intérpretes de Libras e
ambientes adaptados. “Temos muitos usuários idosos ou com pais idosos, então
investimos no acesso para pessoas com deficiência e mantivemos à disposição uma
cadeira de rodas para usuários que necessitarem”.
Humanização e compromisso diário com a
excelência
A cultura de trabalho também passou por uma
reestruturação. A equipe é treinada para atuar de forma colaborativa e
integrada. “Hoje os funcionários sabem ou aprendem todos os serviços. Isso
permite maior agilidade, especialmente em períodos de alta demanda”, explica a
oficial.
Essa agilidade é essencial em uma metrópole como São
Paulo, onde as mudanças legais e tecnológicas ocorrem em ritmo acelerado. “Se a
lei muda, no dia seguinte já há pessoas no balcão querendo a sua aplicação.
Precisamos estar atualizados em tempo real, tanto nós quanto a equipe”,
completa.
O cartório também se adaptou ao atendimento por canais
digitais. O WhatsApp, por exemplo, superou o telefone como principal meio de
contato. “Hoje atendemos muito mais pessoas pelo WhatsApp do que pelo telefone,
isso também demandou mudança no atendimento, treinamento, mas tudo feito em
tempo real, não há tempo para treinar e depois implementar, pois a população
deseja a mudança no momento em que ela ocorre”, explica.
O cartório como espaço de afeto, memória e
pertencimento
Com uma forte ligação com o bairro, o cartório do
Jabaquara é reconhecido não apenas pelos serviços prestados, mas pelo papel que
ocupa na vida cotidiana da comunidade. “Sinto-me privilegiada e honrada. Existe
um vínculo afetivo forte entre os moradores do bairro e o cartório. Senti isso
logo nos primeiros dias que assumi, o cartório tem a história das pessoas daqui
e devemos cuidar e manter esse legado”, relata a registradora.
O cartório é também muito procurado para a realização de
casamentos. E para isso Júlia conta que investiu para uma boa experiência dos
usuários “Entendemos que o casamento civil, muitas vezes, será a única
celebração da união. Por isso, oferecemos espaços confortáveis, com decoração
‘clean’, onde os noivos possam celebrar esse momento cercados de pessoas
queridas”, ressalta.
Olhar para o futuro: mudanças contínuas e
propósito social
Após seis anos da mudança estrutural, a oficial reconhece
que as melhorias não param. “Já sinto necessidade de realizar mudanças.
Mudanças físicas, estruturais demandam tempo e planejamento, mas com as
alterações legislativas e tecnológicas, mesmo em tão pouco tempo, já penso:
deveria ter feito diferente! Hoje, por exemplo, atendemos usuários com
deficiência auditiva com a ajuda de tradutores de libras, mas a estrutura que
temos poderia ser diferente, melhor, como com uma televisão na sala de
casamentos que possibilitasse aos noivos uma transmissão melhor dos sinais e
não apenas através de um notebook”, reflete.
Mesmo após tantas conquistas, Júlia acredita que ainda há
muito a ser feito. “Sempre penso em melhorias ou investimentos, pois os
serviços ou a forma de prestá-los vai mudando e temos que nos adaptar. Como citei,
buscamos a excelência, mas as mudanças são feitas em tempo real e hoje o que
nos atende bem, amanhã pode não atender tão bem”, afirma.
Por fim, a registradora deixa uma mensagem de gratidão e
compromisso: “Não nos acomodaremos! Fizemos a mudança de prédio para um ponto
próximo ao antigo, sem perdermos a conexão que existia, mas sabemos que podemos
melhorar a estrutura que planejamos. Mudanças ocorreram e queremos atendê-las.
Fico feliz e satisfeita em melhorar, em escutar do usuário que conseguimos
ouvi-lo e atendê-lo de forma mais eficaz e eficiente. Esse é o nosso papel!”.
Fonte: Eduardo Carrasco, Assessoria de Comunicação da
Arpen-SP