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31 de Maio de 2005
Clipping - Jornal da Tarde (SP): "Está registrado em cartório: ele não quer ser enterrado"
Romário Barbosa, 49, tem pavor de funerais. Por isso, quando morrer, quer que seu corpo vire objeto de estudos na Faculdade de Medicina da USP. O desejo do ator Romário Machado Barbosa, 49 anos, está registrado em cartório, mais especificamente no 3º Tabelião de Notas de Santo André, no ABCD. O documento também foi assinado por cinco testemunhas e distribuído entre parentes e amigos. O que ele quer: doar seu corpo para a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo USP. Não que o amor pela ciência seja assim tão grande. No caso de Romário, a decisão tem a ver com a sua tafofobia - o medo de ser enterrado vivo. "Prefiro ser colocado no formol e servir para estudo de alunos de medicina", afirmou o ator.
Ele faz questão de ressaltar que não se trata de uma doação de órgãos, mas de uma doação do corpo inteiro. "Eu não tenho medo da morte, mas tenho verdadeiro pavor de pensar que podem me colocar dentro de uma caixa de madeira fechada, jogar terra em cima e fechar tudo com cimento. A idéia de ser cremado também não me agrada", confessou Romário. A fobia nasceu lá atrás. O ator conta que passou parte de sua infância ouvindo a avó contar histórias horripilantes sobre pessoas que foram, supostamente, enterradas vivas.
Além disso, a lenda de que o também ator Sérgio Cardoso sofria de catalepsia (estado em que o corpo permanece rígido, como se estivesse morto) - e também teria sido enterrado vivo - contribuiu para que o medo aumentasse. Sem saber o que fazer, Romário se apegou a uma pequena nota de jornal. Ali, a Faculdade de Medicina da USP divulgava seu interesse por doadores de corpos. Animado por ter encontrado aquilo que seria a cura de sua fobia, ele se dirigiu à faculdade. Seu primeiro obstáculo apareceu dentro da própria instituição. "Fui desencorajado por um segurança evangélico e uma recepcionista da faculdade. Eles diziam que doar o corpo não era certo. Poxa, acredito em Deus, mas tenho livre arbítrio, não é?"
O que veio a seguir foram os procedimentos de praxe. A faculdade forneceu uma declaração padrão, pediu que ela fosse assinada por ele (e outras cinco testemunhas) e, posteriormente, registrada em cartório. No dia de sua morte, um amigo ou parente deverá fazer um boletim de ocorrência em qualquer delegacia da Cidade. Com o B.O. pronto, o corpo de Romário poderá ser levado pelo IML ao Serviço de Verificação de Óbito da Capital. Só depois ele ficará à disposição dos estudantes. Nada disso parece mórbido demais para Romário. Mas é claro que a reação de amigos e parentes foi diferente. "Fica todo mundo me olhando esquisito. Acham que eu quero morrer. Mas não é nada disso. Eu só não quero ser enterrado", contou.
A amiga Arlinda Ribeiro de Oliveira recebeu uma cópia da declaração - e, com ela, a incumbência de não permitir a realização de um funeral. "Fiquei surpresa. Nunca vi uma coisa assim. Acho que ele é maluco porque é artista. Mas tudo isso no bom sentido, viu?", brincou. A professora de Topografia Estrutural Humana da USP, Consuelo Junqueira Rodrigues, aplaude a iniciativa de Romário. "Os corpos são importantes no desenvolvimento dos estudantes de medicina. Com eles, existe a possibilidade de o aluno vivenciar a medicina com mais realismo", disse. Consuelo também afirmou que não há muitos doadores espontâneos. "No máximo, 12 por ano. Os demais são corpos de indigentes", completou.
Quem quiser doar o próprio corpo para estudos deve ligar para a Faculdade de Medicina da USP, no telefone (11) 3066-7299.
Ele faz questão de ressaltar que não se trata de uma doação de órgãos, mas de uma doação do corpo inteiro. "Eu não tenho medo da morte, mas tenho verdadeiro pavor de pensar que podem me colocar dentro de uma caixa de madeira fechada, jogar terra em cima e fechar tudo com cimento. A idéia de ser cremado também não me agrada", confessou Romário. A fobia nasceu lá atrás. O ator conta que passou parte de sua infância ouvindo a avó contar histórias horripilantes sobre pessoas que foram, supostamente, enterradas vivas.
Além disso, a lenda de que o também ator Sérgio Cardoso sofria de catalepsia (estado em que o corpo permanece rígido, como se estivesse morto) - e também teria sido enterrado vivo - contribuiu para que o medo aumentasse. Sem saber o que fazer, Romário se apegou a uma pequena nota de jornal. Ali, a Faculdade de Medicina da USP divulgava seu interesse por doadores de corpos. Animado por ter encontrado aquilo que seria a cura de sua fobia, ele se dirigiu à faculdade. Seu primeiro obstáculo apareceu dentro da própria instituição. "Fui desencorajado por um segurança evangélico e uma recepcionista da faculdade. Eles diziam que doar o corpo não era certo. Poxa, acredito em Deus, mas tenho livre arbítrio, não é?"
O que veio a seguir foram os procedimentos de praxe. A faculdade forneceu uma declaração padrão, pediu que ela fosse assinada por ele (e outras cinco testemunhas) e, posteriormente, registrada em cartório. No dia de sua morte, um amigo ou parente deverá fazer um boletim de ocorrência em qualquer delegacia da Cidade. Com o B.O. pronto, o corpo de Romário poderá ser levado pelo IML ao Serviço de Verificação de Óbito da Capital. Só depois ele ficará à disposição dos estudantes. Nada disso parece mórbido demais para Romário. Mas é claro que a reação de amigos e parentes foi diferente. "Fica todo mundo me olhando esquisito. Acham que eu quero morrer. Mas não é nada disso. Eu só não quero ser enterrado", contou.
A amiga Arlinda Ribeiro de Oliveira recebeu uma cópia da declaração - e, com ela, a incumbência de não permitir a realização de um funeral. "Fiquei surpresa. Nunca vi uma coisa assim. Acho que ele é maluco porque é artista. Mas tudo isso no bom sentido, viu?", brincou. A professora de Topografia Estrutural Humana da USP, Consuelo Junqueira Rodrigues, aplaude a iniciativa de Romário. "Os corpos são importantes no desenvolvimento dos estudantes de medicina. Com eles, existe a possibilidade de o aluno vivenciar a medicina com mais realismo", disse. Consuelo também afirmou que não há muitos doadores espontâneos. "No máximo, 12 por ano. Os demais são corpos de indigentes", completou.
Quem quiser doar o próprio corpo para estudos deve ligar para a Faculdade de Medicina da USP, no telefone (11) 3066-7299.