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10 de Março de 2004

Unesco divulga pesquisa inédita no Brasil sobre juventude e sexualidade

A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lança um estudo inédito no Brasil sobre juventude e sexualidade, realizada no Distrito Federal e em 13 capitais (Cuiabá, Belém, Porto Alegre, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Maceió, Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória). A pesquisa por amostragem, que representa um universo de 4,6 milhões de alunos, traz importantes revelações sobre o comportamento sexual dos jovens, entre elas a de que, em quase todas as capitais, mais de 10% das crianças e adolescentes com idade entre 10 e 14 anos já tiveram uma relação sexual.

A pesquisa ouviu alunos, pais, professores e membros do corpo-pedagógico de escolas públicas e privadas, e abordou questões como aborto, gravidez na adolescência, iniciação sexual, virgindade, prevenção, métodos anticoncepcionais, relações afetivo-sexuais como o "ficar" e o namorar, diálogos com adultos sobre sexualidade, tipos de violência como assédio, estupro e homofobia e trabalhos na escola sobre sexualidade. Foram entrevistados 16.422 estudantes entre 10 e 24 anos, sendo 53,3% do sexo feminino, 4.532 pais e 3.099 professores de escolas de ensino fundamental e médio.

Sobre a iniciação sexual, a pesquisa mostra que a idade média da primeira relação sexual é mais baixa entre os meninos: varia de 13,9 a 14,5 anos entre os jovens, enquanto entre as meninas a idade média é de 15,2 a 16 anos.

A pesquisa indica que, apesar da precocidade da vida sexual, os jovens tendem a ter contatos com apenas um parceiro, o que leva a um questionamento sobre a idéia de "promiscuidade" sexual juvenil. Em média, cerca de 70% dos adolescentes, de diferentes idades, afirmam que só tiveram relação sexual com um parceiro. Na maioria das capitais, 80% recusam a perspectiva da existência do amor sem fidelidade. E mais de um terço deles acreditam que seus parceiros fazem sexo apenas com eles.

Quanto às conversas sobre sexo, dois terços dos pais afirmam que já falaram sobre sexo com seus filhos. Mas nota-se que cerca de um terço não dialoga sobre o tema. Segundo os alunos, a primeira conversa com os pais sobre sexualidade tende a se dar por volta dos 11 anos. Apesar disso, a percepção dos alunos é a de que muitos pais têm dificuldades de conversar sobre essas questões.

O estudo também aponta que de cada 10 jovens, nove afirmam que usam algum método contraceptivo para evitar a gravidez. A camisinha é o método mais citado pelos jovens, com o percentual. É importante ressaltar, no entanto, que quando se questiona os alunos se eles normalmente usam os preservativos, de 20,2%, em Maceió, a 4,8%, em Porto Alegre, afirmam nunca tê-lo feito. Um grande número de jovens está bem informado sobre métodos preventivos em relação à gravidez e DSTs e, mesmo assim, não usa camisinha: Fortaleza e Goiânia com cerca de 50%, Vitória, Belém e Porto Alegre com cerca de 40%.

Os jovens se alinham com a posição adotada legalmente pela sociedade brasileira em relação ao aborto, justificando a prática nos casos em que ele está legalizado. Entre 14% (Porto Alegre) e 31% (Maceió) afirmam não serem favoráveis ao aborto em nenhuma situação. Apesar disso, alguns concordam com a prática quando a mulher não quer ter o filho - entre 14%, em Goiânia, e 25%, no Rio.

Muitos jovens estão vulneráveis e já sofreram violências de várias ordens, como assédios, estupros e discriminações por conta de gênero e da opção sexual. Os percentuais de respostas afirmativas dos alunos quanto à ocorrência de estupro ou violência sexual são elevados, variando de 5%, em Vitória e Belém, a 12%, em Cuiabá. Esses dados permitem avaliar a magnitude dessas violências, considerando o trauma na vida das vítimas, o desrespeito e a ofensa.

Chama ainda atenção a postura de discriminação aos homossexuais. Cerca de um quarto dos alunos afirma que não gostaria de ter um colega homossexual. Os homens têm mais preconceito do que as mulheres. Quando perguntados se gostariam de ter um colega homossexual, o percentual de resposta negativas varia de 45% em Vitória a 34% em Belém, para os meninos, e entre 22% em Recife a 10% no Rio de Janeiro, para as meninas.

De um lado, é registrada na pesquisa, por meio de distintos indicadores, a vulnerabilidade negativa dos jovens no campo da sexualidade, o que é um alerta sobre a necessidade e importância de políticas públicas nessa área, além de ações voltadas para a escola de todos os outros segmentos da sociedade.

Fonte: Unesco

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