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04 de Abril de 2004

Clipping - Jornal Nacional - Nomes estranhos não têm vez em cartórios brasileiros

Dar um nome exclusivo para o bebê pode não ser uma tarefa fácil para os pais. Há mais de 30 anos, uma lei impede o registro de nomes considerados estranhos.

O nome do bebê está até na porta do quarto. Rosana Barbosa, a mãe, explica os motivos da escolha.

"Se fosse com "J" teria que pronunciar "Jule" e muita gente não iria entender que seria "Diulle" a pronúncia... Então, eu escolhi com "D"; da mesmo forma que escreve, fala", explica Rosana, funcionária pública.

Mas, quando procurou o cartório, Rosana descobriu que não poderia registrar a filha.

Oficial do cartório: "O nome não existe na língua portuguesa. É uma corruptela do nome estrangeiro, que eles estão mudando as letras para fazer a sonorização das letras, em Português. E uma pessoa chamada Diulle, ia ter problemas. Eu sei que ela vai ter, no futuro, problemas".
Rosana: Como a senhora pode prever o futuro? Eu quero o nome Diulle, porque eu não quero que a minha filha se chame Julia, que é mais comum.
Oficial do cartório : Agora, você vai ter que escolher outro nome que não seja Diulle.
Rosana: Eu não vou escolher outro nome, eu quero este nome.
Oficial do cartório: Aqui eu não posso registrar.

O oficial do cartório pode negar o registro quando, na avaliação dele, o nome puder expor a criança a uma situação de constrangimento. Nesse caso, o pedido vai para a Vara de Registros Públicos, para a decisão do juiz.

Rosana também teve o pedido negado ali. Para o juiz, o nome não caracteriza uma pessoa do sexo feminino.

"Os pais, em algumas situações, são um pouco egoístas. Eles pensam mais em satisfazer um desejo pessoal deles, e não vão prestar atenção, como deveriam, se aqueles prenomes vão trazer problemas e constrangimentos que irão portá-los", alega Marcello Rodrigues, juiz de registros públicos.

No Juizado de Belo Horizonte, 50 pedidos de mudança são registrados por mês. Nomes estranhos, com grafias diferentes, pouco comuns. Como em uma família, onde os integrantes se chamam: Roqueussandra, Roqueudson, Robequilânia, Roqueucélia, Udialen.

"De onde saiu esse nome? Uns debocham, outros acham feio, outros acham bonito", conta Robequilânia.

"Roque o quê?", repete o que as pessoas dizem, Roqueussandra.

Muitos acabam se acostumando como a empregada doméstica Delícia e a administradora de empresa Sensata Laura.

"Às vezes eu tô no trabalho super compenetrada e chega alguém perguntando: a Sensitiva está?!", ri Sensata Laura Gonçalves.

"Achei que o meu nome era o mais esquisito de todo mundo... Mas sempre tem vai além, né?!", observa dona Delicia Pessoa.

Esquisitice que trouxe muitos problemas para uma jovem de 19 anos.

"Eu nunca mudei de escola para não ter motivo das pessoas que não me conheciam zombarem de mim", comenta Onofra.

Onofra entrou com um processo na Justiça e saiu da audiência com um novo nome. "Nome novo, vida nova. Nossa, tenho grandes projetos pra minha vida agora!", comemora.

Fonte: Jornal Nacional

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