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Artigo - No casamento e nos negócios, faça background check ou cale-se para sempre
– por Alexandre Pegoraro
A inteligência artificial e o aprendizado de máquina, por exemplo, estão permitindo analisar em questão de segundos, grandes conjuntos de dados e identificar padrões que podem indicar preocupações ou qualificações nas partes envolvidas em uma negociação.
Quem nunca se deliciou vendo um
filme, uma novela ou uma série na qual um grande escândalo foi revelado logo
após o padre pronunciar a frase: "Se alguém presente souber de alguma
razão pela qual este casal não deve se unir no sagrado matrimônio, fale agora
ou cale-se para sempre"?
Essa oportunidade para impedir
um casamento aparece oficialmente no Livro de Oração Comum publicado em 1549
pela Igreja Anglicana e tinha como objetivo permitir que fossem denunciados
casos nos quais, por exemplo, um dos noivos não fosse batizado no cristianismo,
estivesse participando do evento contra sua vontade ou já fosse casado. Poderia
ser também a situação na qual um dos dois não tivesse a idade permitida para se
casar, ou se a união envolvesse parentesco sanguíneo.
Ocorre que recentemente, a
Câmara dos Deputados passou a analisar uma proposta de versão moderna desta
frase com a apresentação do PL 1973/23, pela deputada Dayany do Capitão
(União-CE). A iniciativa, que também pode ser comparada com um movimento de
background check, pretende exigir que, entre os documentos necessários para a
habilitação para o casamento, seja apresentada a Certidão de Antecedentes
Criminais e a Certidão Judicial de Distribuição Cível e Criminal, o popular
"Nada Consta" das comarcas onde os noivos moram e trabalham.
Pelo texto em análise, os noivos
deverão acessar as certidões para terem plenas condições de "reflexão,
amadurecimento e tomada da decisão mais convicta sobre o casamento", o que
parece ser muito bem-vindo considerando a união matrimonial como um acordo cujo
objetivo, a princípio, é de que seja para sempre.
Afinal, o que poderia ser pior
do que descobrir depois de assinados os termos do casamento que o agora já
cônjuge havia sido acusado, processado, julgado, condenado e até preso por ter
cometido um crime do qual nunca havia mencionado anteriormente?
Trazendo essa surpresa negativa
para o mundo dos negócios, o que poderia ser pior do que descobrir depois de
ter contratado um profissional ou ter assinado um contrato de milhões de reais
assumindo altas responsabilidades sociais, ambientais e éticas que a empresa
parceira ou seus executivos já foram acusados, processados, julgados,
condenados e até presos por terem cometido um crime do qual nunca haviam
mencionado anteriormente?
É justamente em busca de evitar
este tipo de risco que as empresas têm sido orientadas e atendido cada vez mais
à orientação de buscar o serviço de background check antes de dar a palavra
'sim' final em seus relacionamentos.
O termo "background
check", que em português, significa "verificação de
antecedentes", representa o processo de investigação realizado por
empresas, instituições financeiras e outras organizações para confirmar a
veracidade das informações fornecidas por alguém, tais como dados pessoais,
histórico de endereços, histórico de emprego, histórico educacional, antecedentes
criminais, dentre outras.
Existem vários tipos de
background checks, cada um com um foco específico como a Contratação de
Colaboradores; a concessão de Crédito; Criminal; Educacional; e de Identidade
sendo que as tecnologias emergentes estão avançando rapidamente para apresentar
laudos cada vez mais precisos e de forma mais rápida.
Para isso, a inteligência
artificial e o aprendizado de máquina, por exemplo, estão permitindo analisar
em questão de segundos, grandes conjuntos de dados e identificar padrões que
podem indicar preocupações ou qualificações nas partes envolvidas em uma
negociação.
Mas para utilizar essas soluções
tecnológicas sem correr riscos, é importante cumprir as regulamentações de
privacidade, como a LGPD. Além disso, é fundamental manter a transparência e a
ética para realizar verificações de antecedentes, proteger os direitos dos
pesquisados e evitar discriminações injustas.
Essa evolução tecnológica também
reduziu os custos e ampliou o acesso a este tipo de cuidado de uma forma que
não fazer o background check equivale a se calar, mesmo sabendo que existe
alguma razão pela qual a empresa não deve contratar alguém ou fechar um negócio
com outra instituição.
Claro que não é um caso de se
calar para sempre, mas falar alguma coisa depois de assinado o contrato sem ter
feito o background check é o mesmo que remediar quando há consenso em torno do
fato de que é sempre melhor e mais econômico prevenir.
Fonte: Migalhas.