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Biológico, afetivo e até depois da morte: entenda por que o reconhecimento da paternidade é um direito do filho e como solicitar
Em Campinas, mais de 1,5 mil pessoas tiveram o
reconhecimento da paternidade desde 2016. Procedimento pode ser realizado
diretamente nos cartórios ou por meio de ação judicial.
Mais de 1,5 mil moradores de Campinas (SP) passaram a contar com o nome
do pai no registro de nascimento nos últimos oito anos, segundo dados da
Associação de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen).
A média é de 187 reconhecimentos de
paternidade anualmente, o que representa menos de um terço do total de
crianças que não receberam o nome do progenitor ao nascer nesse mesmo período:
foram 4,8 mil – 3,4% do total de nascidos –, cerca de 600
anualmente.
Além de uma questão afetiva, o reconhecimento de paternidade
também tem valor importante no direito civil. Por meio dele, filhos podem
receber de seus pais aquilo que deveria ser oferecido desde o ventre:
acolhimento e atenção as suas necessidades.
No mês em que é celebrado o Dia dos Pais, o g1 conversa
com o professor de direito civil José Eduardo Figueiredo de Andrade Martins da
PUC-Campinas para entender o que é, porque é importante e como solicitar o
reconhecimento de paternidade.
👨👧👦 O
que é o reconhecimento de paternidade: como
o próprio nome sugere, esse é um procedimento civil que busca reconhecer o
vínculo entre pai e filhos. Vale dizer, porém, que o reconhecimento não está
limitado às filiações biológicas. Também pode ser possível a inclusão do nome
do pai no registro em casos de inseminação artificial ou afetividade (veja
abaixo).
⚠️ Por que é importante: o direito à paternidade responsável é previsto no
artigo 226 da Constituição Federal e seu reconhecimento “atrai todos os
direitos, deveres e obrigações relacionados à paternidade. Por exemplo, o poder
familiar, que tem a ver com a autoridade do pai diante do filho – como em casos
de viagem ou casamento de menores de idade”, explica José.
“O homem se torna responsável pela criança e também por
suprir suas necessidades. Em linhas gerais, passam a ter efeito os direitos que
o filho teria, por isso tem a possibilidade da cobrança de pensão alimentícia,
por exemplo”.
👩👧 Quem pode
solicitar: no caso de menores de
idade, o reconhecimento de paternidade pode ser feito pela genitora ou pelo
próprio pai. Quando maior de 18 anos, o filho pode requerer o procedimento.
📝 Reconhecimento em
cartório: se houver concordância do
pai em reconhecer o filho, o procedimento pode ser feito diretamente no cartório
levando a certidão de nascimento. “Lá o filho pode fazer o novo registro
automaticamente”, afirma o especialista.
⚖️ Reconhecimento por ação
judicial: se o homem não quiser
reconhecer, o filho ou a genitora podem acionar a Justiça. Nesse caso, basta
procurar um cartório de registro civil com a certidão de nascimento e preencher
um formulário indicando o nome do suposto pai. Feito isso, é iniciado um
processo de investigação de paternidade oficiosa, que dura cerca de 45 dias.
O cartório envia ao juiz competente a certidão de
nascimento e os dados do suposto pai, que será convocado a se manifestar em
juízo sobre a paternidade. Se ele se recusar a se manifestar ou se persistir a
dúvida, o caso é encaminhado ao Ministério Público para abertura de ação judicial
de investigação de paternidade e realização de exame de DNA
Se, ainda assim, ele se recusar a realizar o exame, poderá
haver presunção de paternidade, a ser avaliada juntamente com o
contexto probatório. Se a decisão de pedir o reconhecimento for do filho maior
de 18 anos, ele mesmo pode procurar o Cartório de Registro Civil e preencher o
formulário padronizado.
🧬 Não precisa ser
biológico: o professor destaca que
“reconhecimento da paternidade também pode ser por alguém que não é o pai
biológico, mas sim afetivo, como um padrasto ou outra pessoa que age como se
fosse o pai da criança”. Nesse caso, porém, também é feito no âmbito da
Justiça.
⚰️ Reconhecimento depois da
morte: é possível fazer o
reconhecimento de paternidade mesmo após a morte do pai. “Daí vão se utilizar
de provas já existentes ou pode ser utilizado o material genético de possíveis
parentes, como os irmãos”. A partir disso, “é possível incluir o filho em ação
de inventário, por exemplo, fazendo com que parte da herança fique reservada”.
❤️ Princípio da afetividade: embora o pai passe a ter obrigações legais após o
reconhecimento, José pontua que ele e o filho não serão obrigados a
conviver. “A lei não manda que eles se amém. Pelo contrário. O princípio de
afetividade prevê que a relação familiar como um todo deve ter um mínimo de
respeito e assistência mútua”.
“Isso quer dizer que você pode não gostar da pessoa, não
querer convivência, mas ainda assim trata com respeito e cumpre seus deveres”.
😌 Emocional aliviado: para além das questões legais, o reconhecimento da
paternidade ainda traz um grande impacto no emocional de quem busca esse
processo. Mesmo que não haja convivência ou que o pai já tenha falecido “isso
pode fazer a pessoa se sentir um pouco mais colocada dentro da sociedade”,
comenta o professor.
Fonte: G1 Campinas