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11 de Janeiro de 2023

Correio Popular - Óbitos seguem elevados em Campinas no pós-pandemia

Média diária é de 26,23 mortes no município em 2022, contra 22,08 em 2019

Levantamento inédito feito com base no Portal da Transparência do Registro Civil, administrado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP), a pedido do Correio Popular, revela que o número de óbitos em Campinas segue acima do registrado antes do início da pandemia de covid-19, apesar de nos primeiros 11 meses do ano passado, a crise sanitária ter ficado sob maior controle. De 1º de janeiro a 22 de novembro de 2022, o município registrou 8.552 mortes, alta de 6,1% em relação as 8.059 ocorridas em todo o ano de 2019. Os dados são cruzados com os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Arpen-SP representa os 836 cartórios de registro civil que atendem todos os 645 municípios paulistas, sendo responsáveis pelas emissões das certidões de nascimento, casamento e óbito. O levantamento mostra que a média diária é de 26,23 mortes em Campinas, contra as 22,08 de 2019, último ano antes do início da pandemia no Brasil.

De acordo com o balanço, o maior número de óbitos no município ocorreu em 2021, 11.044 no total, o que coincide com o pior período da crise sanitária. A média foi de 30,26 mortes/ dia, alta de 37,04% em relação ao período pré-pandemia. Em 2020, ano bissexto, foram 9.003 óbitos, o que representa aumento de 11,71% na comparação com o ano anterior e média diária de 24,6 registros.

“Os números dos cartórios de registro civil mostram, mais uma vez, em tempo quase real, o retrato fidedigno do que acontece com a população paulista”, afirma o presidente da ArpenSP, Gustavo Renato Fiscarelli. Apesar da queda no número de mortes por covid-19 registrada em 2022, a manutenção acima da média pré-pandemia pode estar relacionada a sequelas provocadas pela doença.

“O conhecimento que temos das sequelas de outras pandemias indica que esses sintomas podem afetar a expectativa de vida, causando mortes prematuras meses a anos depois”, afirma o professor de biologia celular Guillermo López Lluch.

Ele é pesquisador de metabolismo, envelhecimento e sistemas imunológico e antioxidante da Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha, na Espanha, e publicou um estudo no site científico The Conversation. “Mais um motivo para não deixarmos o coronavírus nos infectar sem estarmos preparados. A vacinação salva vidas, até mesmo anos depois”, completa.

Estado

“Embora haja uma diminuição nos óbitos por covid-19, notamos crescimento de mortes por outras doenças, como a pneumonia, doença do coração e septicemia, que podem vir a ser consequências de sequelas da covid”, afirma o presidente da Arpen-SP. O levantamento da entidade mostra o volume de mortes acima da média anterior à crise em Campinas e está abaixo do registrado no Estado de São Paulo, que é de 14,8%.

Entre janeiro e outubro de 2022 foram 305.279 óbitos em todos os municípios paulistas, contra 265.780 ocorridos nos dez primeiros meses de 2019. Na comparação com 2021, houve uma redução de 24%, quando foram totalizadas 380.835 mortes. Em 2020, quando a covid-19 chegou ao País, foram 299.258 óbitos.

Para a associação dos cartórios, o balanço de 2022 chama mais atenção, quando comparado à média da evolução de mortes ano a ano no Estado, que foi de 1,5% entre 2010 e 2019. Durante esse período, a maior variação em São Paulo ocorreu em 2016, quando o crescimento foi de 3%.

Os dados do Portal da Transparência do Registro Civil mostram, que com o aumento da vacinação e maior controle da pandemia, a covid-19 deixou de liderar o ranking de mortes por doença em São Paulo, com queda de 83,6% entre janeiro e outubro de 2022 em relação ao mesmo período de 2021. Nos dez primeiros meses de 2022, foram 18.182 mortes causadas pelo novo coronavírus, enquanto no mesmo período de 2021 foram 111.345.

No entanto, outras doenças, algumas relacionadas a sequelas da covid-19, tiveram crescimento. “A partir desses dados, é possível pensar em políticas de saúde pública e prevenção a essas doenças”, diz Fiscarelli. O levantamento da Arpen mostra, por exemplo, aumento de 37,48% no número de óbitos por pneumonia, que passaram de 37.746 entre janeiro e outubro de 2021 para 51.892 no mesmo período de 2022.

As mortes por septicemia também apresentaram crescimento em 2022, com alta de 11,62%. De janeiro e outubro, foram 36.498 óbitos por infecção generalizada do organismo, enquanto no mesmo período do ano passado foram 32.697. Na comparação dos dez primeiros meses de 2022 com 2020, quando ocorrem 29.528 mortes, o aumento é de 23,6%.

Outros casos

Outro dado apontado pelo Portal da Transparência do Registro Civil é o aumento de mortes por doenças do coração. Entre janeiro e outubro em comparação aos dez primeiros meses de 2021, as mortes por acidente vascular cerebral (AVC) cresceram 5,4%, enquanto que por infarto, 7,6%. Em comparação com 2019, antes do início da pandemia, a elevação é ainda maior, sendo de 8,5% para as mortes causadas por AVC e de 7,8% para as relacionadas a infarto.

De acordo com o levantamento da Arpen-SP, outro número que chama a atenção é o de mortes por Síndrome Respiratória Grave (SRAG). Entre 2019 e 2022, houve um salto de 334,8% os registros de óbitos por esta doença respiratória. Os cartórios de registro civil paulistas contabilizaram 1.087 mortes por SRAG de janeiro e outubro do ano passado, contra 250 no mesmo período de 2019.

Fonte: Correio Popular

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