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06 de Fevereiro de 2023

Diário da Grande ABC - Número de nascimentos na região é o menor em 19 anos

Levantamento aponta que taxa de natalidade segue em queda desde 2003; baixo índice de fecundidade é a principal causa

Há 19 anos não se via tão poucos registros de nascimentos no Grande ABC como em 2022. Segundo levantado da Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado) a pedido do Diário, o ano passado contabilizou o menor número de crianças nascidas vivas em quase duas décadas.

No total, 26.266 bebês foram registrados nos cartórios da região em 2022 – o número é o mais baixo desde 2003, quando iniciou a série histórica. Os registros do ano anterior são 5% menores que os de 2021, quando tiveram 27.633 mil nascimentos. Nos últimos dez anos, a média de nascimentos por ano na região era de 32 mil. Levando em consideração este número, é como se em 2022, 5.988 bebês deixaram de ser registrados nos sete municípios. O dado representa 200 salas de aula (com 30 estudantes cada) cheia de crianças.

A queda da natalidade, agravada nos últimos anos pela pandemia da Covid-19, tem ocorrido gradativamente em níveis estadual e nacional. O baixo índice de fecundidade (número de filhos por mulher) é considerada a principal causa. Planejamento familiar e maior inserção da mulher no mercado de trabalho são alguns dos fatores para diminuição da fecundidade, explica a substituta do 1º Cartório de Registro Civil de São Bernardo, Ana Amélia Tonin.

Segundo estudo da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), entre 2000 e 2020 o número médio de filhos por mulher passou de 2,08 para 1,56 – diminuição de 25% no Estado. “Na Região Metropolitana, as reduções já foram observadas desde 2018, passando de 1,8 para 1,6, com importante queda da fecundidade na Capital”, aponta a Fundação.

GRAVIDEZ TARDIA

A andreense Gleicy Mantovani dos Santos, 42 anos, é uma das mulheres que decidiram adiar a gravidez por alguns anos. A empresária e contadora decidiu focar na sua carreira profissional e também em realizar seus objetivos pessoais antes de ser mãe. Essa decisão mudou em 2016, quando seu pai morreu em decorrência de leucemia. Devido a problemas de saúde, como mioma, Gleicy passou quatro anos tentando realizar o sonho de ser mãe.

Após alguns tratamentos médicos, em 2019, aos 39 anos, ela engravidou do pequeno Matheus Mantovani dos Santos, que hoje está com 3 anos. “Sempre quis ser mãe, mas fui postergando esse desejo porque estava preocupada em conquistar alguns objetivos até para oferecer um futuro melhor para o bebê. Quando me dei conta já estava quase com 40 anos. Foi quando decidi transformar o sonho em realidade”, conta Gleicy, que estuda a possibilidade de engravidar novamente, mas analisa todos os cenários. “Seria ótimo para o Matheus ter um irmão, porém preciso levar em consideração que são muitas coisas envolvidas, como possibilidade de uma gravidez de risco, tempo, dinheiro, atenção, entre outros pontos”, ressalta a moradora do Parque das Nações, em Santo André.

POPULAÇÃO

A baixa taxa de natalidade impacta também na reposição populacional. Segundo última prévia do Censo 2022, divulgada em dezembro do ano passado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 208 milhões de habitantes. O número representa alta de apenas 0,7% ano desde o último recenseamento, realizado em 2010. É o menor aumento populacional já registrado pelo País desde o início da série histórica, em 1872.

A LIBERDADE DE DIZER NÃO À MATERNIDADE

Assim como as mulheres que optam por uma gravidez tardia (a partir de 35 anos), algumas dizem não definitivamente para maternidade. Os motivos são diversos, seja por objetivos pessoais, maior foco na carreira profissional ou simplesmente por não querer ser mãe, as mulheres tem optado cada vez mais por não dedicar a vida para criação de outro ser humano.

Além da baixa taxa de fecundidade (número de filhos por mulher), a recusa a maternidade também é outro ponto que impacta no índice de natalidade do País. Para se ter uma ideia do atual cenário, as cidades do Grande ABC registraram em 2022 o menor número de nascimentos em 19 anos – leia mais acima. “Quando me casei ficou aquela pressão que toda mulher sofre para ter um filho. Depois de quatro anos de tentativa desisti e foquei em mim e na minha carreira profissional. Após um tempo, percebi que não teria mais espaço para uma criança na minha vida.”

O relato é da advogada Andrea Silva Guidastre, 48 anos, moradora da Vila Lucinda, em Santo André, e que não teve filhos por escolha própria. Mesmo segura da sua decisão, Andrea conta que sofreu pressão para ser mãe. “Sofri muitas cobranças. As pessoas tentavam encontrar soluções e falavam ‘Por que você não adota?’ ou ‘Você leva jeito’. Não respeitavam a minha escolha”, finaliza.

Mesmo jovem, a estudante Camila (nome fictício), 21, já traçou seu destino, e filhos não fazem parte dos seus planos. Moradora do Parque das Nações, em Santo André, ela sonha em se formar em direito e viajar diversos países atuando como diplomata. “Entendo que a maternidade é um compromisso e trabalho durante a vida toda. A escolha de ter filhos precisa ser consciente, não uma mera consequência”, diz. Além disso, a jovem pontua a preocupação em transmitir o transtorno bipolar para a criança. “Nenhum filho merece ver uma mãe emocionalmente instável, isso afetaria uma vida inteira, não quero me responsabilizar por esse sofrimento”, desabafa Camila. 

Fonte: Diário do Grande ABC

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