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11 de Julho de 2022

Diário da Região - Rio Preto tem o menor número de nascimentos em dez anos

Pandemia, crise econômica e comportamento de casais influenciam na redução da taxa de natalidade

“Quando vocês vão ter mais um filho? “, “Não acha que a menina precisa de um irmãozinho?”, “Melhor ter mais um bebê, porque filho único fica mimado”. São frases ouvida com muita frequência por Laura Chaves Salgado Filiar, 36 anos, mãe de Liz, sua única filha, de 1 ano e seis meses. Ela e o marido, Rodrigo José Filiar, fazem a formação mais frequente nos últimos anos de núcleos familiares.

Segundo a Transparência do Registro Civil da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP), Rio Preto registrou 2.794 nascimentos nos seis primeiros meses deste ano. É o menor número dos últimos dez anos para o período. A maior quantidade de nascimentos foi registrada em 2019, com 3.367.

A taxa de natalidade na região de Rio Preto tem diminuído nos últimos anos. A taxa apresenta o número de nascidos vivos a cada mil habitantes. Segundo a Fundação Seade, a taxa caiu de 14,42 em 2000 para 12,74 em 2010 e, segundo o dado mais recente, de 2020, está em 11,54. Os casais têm optado por ter menos filhos – ou não ter. As motivações vão desde o alto custo de vida até uma mudança de mentalidade e também passam pela pandemia.

“Optamos por ter apenas uma filha por vários fatores, principalmente a condição financeira. As pessoas não têm noção de um gasto com filho até ter ele. A gente quer criar a Liz com tudo que ela tem direito, mas a gente recebe muita cobrança de amigos e parentes para ter mais um filho”, diz a mãe. Os pais da criança vem de famílias maiores. Laura tinha uma irmã e Rodrigo é o caçula de quatro irmãos.

A autônoma Neusa Francisco Gasques, 39 anos, e o marido, Elias, também optaram por ter apenas um filho, Murilo, de 9 anos.

“Hoje, para você dar uma comodidade de uma escola particular e um convênio médico para um filho, tem um custo alto. Se você não tem uma renda maior, é melhor ter apenas um filho”, recomenda a autônoma, que reclama da cobrança da sociedade para ter mais uma criança.

No consultório do ginecologista Wagner Vicensoto, do Hospital da Criança e Maternidade de Rio Preto, a cada dez casais atendidos, três optam por ter apenas o filho único.

“Essa redução da taxa de natalidade não é exclusiva de Rio Preto, é no Brasil todo. No geral, tivemos uma redução, primeiro pelo maior conhecimento das mulheres por todos os métodos anticonceptivos, inclusive os de longa duração, como o implante de DIU, que suspendem a gravidez por até cinco anos”, diz o médico.

Para o médico, um fator social que influencia na baixa natalidade é a opção das mulheres em investir cada vez mais na carreira profissional, para ter o mínimo de estabilidade financeira, como condição preparatória para a gravidez.

“Felizmente, nos últimos anos reduziu muito a gravidez na adolescência. As mulheres têm optado por uma gravidez mais tardia, o que restringe a possibilidade de ter muito mais filhos”, diz o médico.

Proprietário do Centro de Reprodução Humana de Rio Preto, o médico Edilberto de Araújo Filho, tem percebido a opção do filho único pelos casais que lutam contra a infertilidade.

“Sim, os casais que estão sendo submetidos à fertilização ‘in vitro’ estão optando cada vez mais por transferir um embrião por vez. Trata-se realmente de uma tendência europeia que está chegando no Brasil”, explica o especialista.

Segundo Edilberto, há 10 anos eram raros os casais que queriam transferir apenas um embrião. Hoje, 25% dos casais que têm indicação para FIV já chegam com a ideia de transferir um embrião por vez, mesmo que tenham tido mais embriões durante o tratamento.

“Essa evolução da medicina reprodutiva , aliada a capacitação de profissionais, permite que essa transferência de apenas um embrião tenha boas chances de sucesso e de uma gravidez tranquila", diz o médico.

Fatores

Para a socióloga Alessandra Laurindo da Silva, independentemente da quantidade de filhos, o importante é que as mulheres tenham o direito de decidir sobre a maternidade.

“Por muito tempo na história do mundo, as mulheres foram obrigadas a terem uma grande quantidade de filhos, inclusive quando havia risco para saúde delas, porque não tinham controle sobre o corpo. Muitas até morriam em partos, por falta de assistência médica. Agora, ela decide a quantidade de filhos, quando e se vai tê-los, porque mais do que ninguém ela sabe se a família tem condições de aumentar”, afirma a socióloga.

Para a psicóloga Joelma Caparroz, a queda de nascimentos também tem relação com o mercado de trabalho. “Reduziu o número de filhos por questões de tempo para com os cuidados dispensados a eles e por quererem garantir melhores condições de vida.”

Queda tem vários fatores

O economista André Yano afirma que a queda de natalidade no Brasil acompanha o desenvolvimento econômico do Brasil, desde as décadas de 1950 até os dias atuais.

“Da década de 50 para cá, o Brasil deixou de ser agrário para ser urbano. Antes, as famílias eram numerosas, porque um filho a mais era um braço a mais para trabalhar nas fazendas”, explica.

André afirma que o cenário começa a mudar a partir das décadas de 80, com o êxodo rural, aumento da participação feminina no mercado de trabalho e maior acesso aos métodos de concepção.

“Antes disso, a mulher tinha que ter permissão do marido para trabalhar, Quando isso cai, aumenta a inclusão feminina no emprego”, diz o especialista.

A redução da quantidade de filhos é reflexo do aumento do custo de vida familiar, o que faz com que os pais repensem o tamanho sustentável da família.

“Hoje as pessoas querem ter um filho para ter dinheiro para pagar escola particular, plano de saúde, dar tudo que ele precisa e tempo para viver totalmente a vida desta criança”, diz o especialista.

André alerta, no entanto, que a consequência da redução do tamanho das famílias será a queda da quantidade de mão de obra a disposição no mercado de trabalho, fato já registrado na Europa.

Em decorrência da redução das famílias, os empreendimentos imobiliários da cidade têm oferecido cada vez mais imóveis com apenas dois quartos, com casas ou apartamentos menores, o espaço ideal para acomodar as atuais famílias.

Fonte: Diário da Região

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