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15 de Dezembro de 2021

Mario Zanini: 50 anos de falecimento do pintor paulista

Doutora nas obras do artista comenta seus principais feitos, a alcunha de “artista operário”, suas principais obras e o motivo da falta de seu reconhecimento e fama

No próximo mês de fevereiro, completam-se 100 anos da Semana de Arte Moderna, também conhecida como Semana de 22, realizada na cidade de São Paulo entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922. Um marco para a história da Arte brasileira, o evento, ocorrido nas dependências do Theatro Municipal, foi o principal responsável pela consolidação do Modernismo no país, movimento referência da ruptura de tradições e estilos passados. 

Com a Semana de 22, a Arte Modernista ganhou cena no Brasil, estabelecendo como uma das principais formas artísticas de manifestação da população no momento, realizando uma renovação social e cultural no país. Grandes pintores, escultores, músicos, escritores, poetas e artistas estiveram presentes no evento, que contou com a participação ilustre de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, entre outros. Os principais convidados da Semana de Arte Moderna eram indivíduos com uma extensa formação acadêmica, muitas vezes com estudos realizados no exterior - algo exorbitante para a época -, e composta por pessoas da elite artística brasileira. 

Mas no mesmo cenário das artes paulistanas, e a poucos anos após a Semana de 22, outros nomes também marcavam suas passagens na história artística da maior cidade do país. Citados por Mario de Andrade como “artistas operários”, pelas suas raízes de origens operárias, estes pintores, músicos, artesãos e escultores muitas vezes não possuíam a fama que aqueles de 1922 tinham, e nem mesmo a formação acadêmica. 

Eram pessoas de origem simples, nascidos em bairros operários da cidade de São Paulo, como Brás, Cambuci e Bixiga, e que aprenderam suas técnicas e métodos a partir de outros pintores ou de escolas de arte da região que moravam. Um destes “artistas operários”, tendo nascido e residido no bairro do Cambuci durante toda sua vida, foi Mario Zanini, pintor, ceramista e decorador, integrante do movimento Modernismo, tendo completado, neste ano de 2021, 50 anos de seu falecimento.


Mario Zanini | Foto: Arquivo público

Lauci Bortoluci Quintana, bibliotecária, chefe técnica do Serviço de Biblioteca e Documentação do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e que possui sua tese de Doutorado sobre Mário Zanini, disse que “os artistas operários não transitavam entre os artistas da Semana de 22, indivíduos estudados no exterior ou ali diretamente estimulados. A tônica, para aqueles, era o fato de pertencerem a uma geração marcada pelas origens sociais”.

Mesmo não tendo participado e vivido com os mais conhecidos artistas modernos da época, uma atuação marcante do pintor na historiografia da Arte paulistana é o fato de Mario “ter trabalhado a vida toda pela arte, sem mecenas, sem patrocínios vultosos, sem recursos materiais, despojado, porém incansável em sua pintura”, explicou Lauci. 

50 anos de atuação

Mario nasceu no dia 10 de setembro de 1907, oriundo de uma família de italianos que vieram ao Brasil na grande leva de imigrantes deste país, tendo seu ápice entre o final do século XIX e as primeiras décadas do XX. De descendentes humildes, Mario iniciou seus estudos no curso de pintura com apenas 13 anos de idade, na Escola Profissional Masculina do Brás, próximo ao seu bairro de origem, o Cambuci. Nos anos seguintes, continuou desenvolvendo seu conhecimento artístico, tendo iniciado outros cursos ligados à pintura e ao desenho e trabalhado em escritórios de decoração.

Ao citar importantes feitos de sua vida, Lauci destaca a “participação nas três exposições da Família Artística Paulista; a atuação ativa no Sindicato dos Artistas Plásticos; a luta pelo reconhecimento trabalhista da profissão; e sua capacidade de viver as transformações do paulistano da passagem do rural para o urbano e de propor uma arte que mostrava essa nova modernidade, seja no centro da cidade, nos bairros operários, na periferia, nas várzeas, e seus múltiplos personagens”.

Com um rol de mais de 200 peças de artes, Mario não possui o reconhecimento devido; e seus 50 anos de produção artística não o levou aos patamares de outros pintores paulistas, como Anita Malfatti. Mesmo possuindo uma rua com seu nome na cidade de São Paulo, localizada no bairro Jardim Pinheiros, é difícil achar alguém que não possua relação com o ramo artístico e que conheça o pintor. 

“Zanini  era  adverso às promoções pessoais, inclusive com reticências à exposições individuais das quais seria figura primeira”, comenta Lauci, sendo uma forma de explicar sua falta de fama. “Este é um fato também que o faz ser pouco conhecido ou famoso como alguns outros colegas, mesmo do Grupo Santa Helena que fez parte, como Alfredo Volpi ou Francisco Rebolo”.

Óleo sobre tela

Entre suas obras, destacam-se as pinturas de óleo sobre tela “Retrato de Hilde Weber”, de 1938; “Canindé”, “Lavadeiras”, “Igreja de S. Vicente”, e a paisagem “Marinha”, todos produzidos na década de 1940; “Lerici”, de 1950; “Dunas”, de 1958; “Pça. Clóvis Bevilacqua”, de 1959; “Paisagem rural com Casario”, da década de 1960; e “Regata no Tietê”, de 1965.


Pintura Leirici (1950) | Foto: Reprodução

Ao longo de suas dezenas de exposições, a exposição individual do artista no MAC, realizada em 1976, contemplou 205 peças da coleção recém doada até obras emprestadas por particulares. “Na exposição individual da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), celebrando o centenário de nascimento, também houve cerca de 200 obras”, disse Lauci.

Com a morte de Mario Zanini, ocorrida em 16 de agosto de 1971, a família doou a coleção de obras do pintor ao MAC-USP, que permanece no museu até os dias de hoje, fazendo parte do acervo artístico do local. A bibliotecária e colaboradora do MAC disse que “neste momento há tela de Zanini exibida na exposição Visões da arte no acervo do MAC 1900-1950”.

O MAC-USP* está aberto para visitação, exceto às segundas-feiras, e a entrada é gratuita.

50 anos sem Zanini

Mario Zanini faleceu à 1h da manhã do dia 16 de agosto de 1971, em sua casa, localizada na Rua Ana Neri, número 10, no bairro do Cambuci, em São Paulo. Zanini tinha 64 anos, não possuía descendentes e era solteiro. A causa mortis de seu obituário foi hemorragia cerebral e hipertensão arterial, causas motivadas por um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Foi sepultado e cremado no Cemitério da Vila Mariana, também localizado na cidade de São Paulo. 

A partir das informações de sua certidão de óbito, emitida no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de São Paulo - 12º Subdistrito - Cambuci, registrada no Livro C-0039, à Folha 089V, sob o número 000016300, no mesmo dia da morte de Zanini, em 16/08/1971, consta que o falecido não deixava testamento, possuía bens e foi o primeiro dos cinco filhos de Agostinho Zanini e Inez Zanini a falecer, deixando os irmãos Gustavo, Armando, Sereno e Marina. 

A certidão de óbito de Zanini foi solicitada pelo site RegistroCivil.org, plataforma oficial dos cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais do país, em que é possível solicitar segundas vias de certidões, localizar todas as unidades cartorárias do Brasil e ainda encontrar o local que o registro de nascimento, casamento e óbito foi realizado.

*Localização: Av. Pedro Álvares Cabral, nº 1.301 - Vila Mariana - São Paulo (SP).

Fonte: Assessoria de Comunicação - Arpen/SP

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